quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

" O homem que queria vender o sítio"

Um comerciante amigo do grande poeta Olavo Bilac, queria vender um sítio. Amigo, você que sempre me visita e conhece bem meu sítio, poderia redigir um anúncio de venda, para que seja publicado no jornal? Aceitando o pedido, com completa disposição, Bilac pegou o papel e redigiu o anúncio: “Vende-se um lindo sítio, afastado da cidade, onde você vai gozar descanso e felicidade. Tem pomar que o ano todo é o salão onde as aves executam seus gorjeios em sinfonias suaves e as falenas no canteiro, adejam entre os agaves. Tem, no silêncio da noite, a lua mostrando recato, quando a brisa deleitosa embala as plantas do mato e a relva dorme escutando o acalanto de um regato. Sua casa proporciona um conforto permanente e é, pela manhã, banhada nos raios do sol nascente. A varanda, à tarde, tem uma sombra envolvente... ” Terminada a redação do texto, o poeta entregou o anúncio ao amigo. Passado algum tempo se encontraram novamente, quando o poeta perguntou: “Amigo, vendeu o sítio no valor correspondente?” O comerciante respondeu:“Estimado Bilac, nem pensei mais nisso. Quando li aquele anúncio desisti, na mesma hora, de vender o meu paraíso!” Às vezes alguém chega para nós, e com a palavra certa, com a observação adequada muda nosso ângulo de visão, faz-nos quebrar os paradigmas e, entendemos que certas coisas de que tanto precisamos e achamos não ter, estão bem do nosso lado...

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

"O valioso tempo dos maduros"

"Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para a frente do que já vivi até agora. Tenho muito mais passado do que futuro. Sinto-me como aquele menino que recebeu uma bacia de cerejas.. As primeiras, ele chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço. Já não tenho tempo para lidar com mediocridades. Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflamados. Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte. Já não tenho tempo para conversas intermináveis, para discutir assuntos inúteis sobre vidas alheias que nem fazem parte da minha. Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar da idade cronológica, são imaturos. Detesto fazer acareação de desafectos que brigaram pelo majestoso cargo de secretário geral do coral. ‘As pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos’. Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência, minha alma tem pressa… Sem muitas cerejas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleita antes da hora, não foge de sua mortalidade, Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade, O essencial faz a vida valer a pena. E para mim, basta o essencial!" - Mário de Andrade