"Nos tempos de Herodes, rei da Judeia, havia um escriba de nome Nicolau. E era Nicolau justo e irrepreensível na obediência aos preceitos do Senhor seu Deus.
Sucedeu ser Nicolau possuidor de modesta quantia de bens, o que lhe proporcionava um viver simples, porém confortável.
Mas eis, que não havia felicidade no coração de Nicolau. Não eram de agradecimento as suas preces ao Senhor, mas de súplicas e lamentos. Abnegado e servidor, porém nunca reconhecido por suas contribuições, dedicava Nicolau todo o seu tempo a implorar que o senhor dele fizesse instrumento de alguma obra notável, pois não queria terminar seus dias na vala comum dos anônimos e esquecidos.
Assim, todas as noites, posto o sol, permanecia Nicolau em sua janela, jejuando e flagelando-se até o limite do suportável, fazendo orações sem fim e interrogando o infinito. Mas ia se escoando o tempo, e nenhum sinal da vontade do Senhor se manifestava.
Uma manhã, veio acordá-lo Sara, sua mulher. Surpreendido pelo cansaço, Nicolau havia adormecido à janela. Era já a hora undécima de um dia já claro.
"Viste, Nicolau, a estrela que toda a noite clareou os céus ?" indagou Sara. E respondeu-lhe Nicolau: "Não, eu não a vi. Fui interrompido em minhas preces por um viajante que passava e logo adormeci.". Novamente perguntou-lhe Sara: "Quem seria tal viajante ? Por acaso eu o conheço ?".
"Não", replicou fatigado Nicolau, "era apenas um carpinteiro de Nazaré da Galileia e a sua mulher grávida. Vieram para o recenseamento. Atirei-lhe alguns dinheiros e ordenei que seguissem viajem. Creio que falou algo sobre pernoitar no estábulo, mas não lhe dei atenção".
E Nicolau agradeceu ao Senhor por tê-lo poupado da inconveniência de que aquela mulher desconhecida viesse a dar a luz justamente em sua casa. E voltou a suplicar aos céus pelo milagre que o faria um homem famoso por todo o sempre...

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